Um pecado que às vezes se comete é tratar Bordeaux de forma genérica. A região do sudoeste da França é imensa, uma das maiores do mundo, com mais de 100.000 hectares de vinhedos e inúmeras subregiões, cada uma delas com particularidades. São cerca de 6.000 châteaux espalhados por 65 AOC – Apelação de Origem Controlada. Como redenção para a generalização, há Pessac-Léognan, uma das principais AOC de Bordeaux.Essa jovem denominação, criada em 1987, nasceu como uma dissidência dos melhores châteaux da AOC Graves (de 1930), concentrados na área logo ao sul da cidade de Bordeaux. Embora recente, a AOC Pessac-Léognan engloba alguns dos vinhedos mais antigos da França, que remontam à era medieval.O Haut-Brion, maior ícone local, tem registros de sua primeira safra em 1525; o Château Pape Clément, fundado pelo Papa Clemente, data de 1306. Outros grandes da região são os châteaux La Mission Haut-Brion, Laville Haut-Brion, Carbonnieux, Fieuzal, Haut-Bailly, Olivier, Malartic-Lagravière e o Domaine de Chevalier.Pessac-Léognan possui microclima temperado, com influências do oceano Atlântico, que modera a temperatura, e da floresta de Landes, a oeste, que protege da umidade vinda do mar. Os solos são de cascalho, com pedras quebradas misturadas a argila, areia e giz.As pedras absorvem o calor do dia e amenizam o frio da noite, intensificando o amadurecimento das uvas. Assim como em toda a margem esquerda de Bordeaux, a uva reinante é a cabernet sauvignon. Nessa área, entretanto, as proporções de outras castas, como merlot e cabernet franc, costumam ser maiores que no Médoc — região mais famosa de Bordeaux, localizada mais ao norte e mais próxima ao oceano.Um diferencial de Pessac-Léognan e Graves são os vinhos brancos. Daqui saem os maiores de Bordeaux e do mundo. Essa é a única área da região que tem classificação de Grand Crus para vinhos brancos.Os Grand Crus de Graves são classificados, desde 1953, por apenas 16 châteaux, em tintos, brancos ou ambos. Como estilo geral, podemos usar a palavra “potência” para definir os vinhos do Médoc, e “complexidade” para os Pessac-Léognan. Vale também colocar a região como um meio-termo entre a potência dos Médoc e os da margem direita, como Saint Émilion e Pomerol, com mais merlot, mais sedosos e elegantes.Texto: Marcelo Copello*As informações e valores dos produtos se referem ao momento de publicação desta matéria.